quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O ESPAÇO DE JOÃO


Após terminar mais um dia exausto em seu trabalho como auxiliar de serviços gerais no Bingo Arpoador, Tião espera impaciente uma condução para voltar para casa. Ele avista o ônibus 177, está lotado, mas ele levanta o braço para o motorista parar, não parou. Tião está cansado, resolve sentar-se à grama que fica perto do ponto de ônibus, o segurança do prédio perto do ponto de ônibus vai a direção de Tião:

- Com licença.

- Oi.

- Não pode deitar na grama não!

- Por que?

- ordens do sindico.

- Mas a grama num tá na rua?

- Mas a grama é do prédio.

Tião ficou esperando o ônibus em pé, com suas pernas quase dobrando de tão cansadas. Finalmente vem a condução, uma mancha negra era o sinal de que esse ônibus está cheio, ele estica o pescoço inclinando o corpo para o lado, os olhos avermelhados abriram-se, lá vem ele, um pouco de lado, o braço levanta, outras pessoas repetem o gesto, em fim ele pára, mas ninguém consegue entrar, está muito cheio. Uma Kombi fazendo lotação vinha logo atrás e parou, havia uma vaga, no porta-malas do carro. Tião foi.

Após sentir-se enlatado Tião chega à Rocinha, olha para a favela, a sua frente está a entrada principal, e começa a subir.

Tião chega em seu quarto alugado, que também é cozinha e onde tem um banheiro, enfia a chave na maçaneta da porta, seu vizinho se aproxima e o aborda para informar do problema ocorrido na rede de esgoto que passa por baixo da casa de Tião, e para concertar era preciso quebrar o chão:

- Não se preocupe Tião, eu vou quebrar o chão, concertar o cano e refazer tudo.

- Tudo bem Pacheco, pode fazer o concerto do senhor.

- Obrigado. Vou em casa pegar as ferramentas e já volto.

Tião enfia a chave na maçaneta, roda a chave duas vezes com a mão esquerda e depois empurra aporta do quarto com a mão direita, vai até a única janela existente, puxa a cortina para o lado, e vê a vizinha fazendo a janta:

- Boa noite Tião

- Boa noite Margarida

- Tião, hoje pela manhã tava fazendo o almoço e percebi que não tinha sal, como não tinha dinheiro pra comprar porque meu marido não deixou, eu estiquei a mão e peguei um punhado de sal, tudo bem?

- Tudo bem Margarida, quando quiser é só...

A conversa é interrompida com um forte barulho juntamente de um tremor no chão, Tião olha para traz e vê Pacheco quebrando o chão a marretadas.

Tião resolve tomar banho, vai a laje para pegar uma roupa e quase é derrubado pelas crianças que brincavam de pique esconde nas lajes. Ele desce e o barulho das marretadas continuava, e se prolongou até às dez da noite. Na hora de se deitar, Tião ainda escutava o som das marretadas.

Desceu da laje, pisou numa possa d’água e entrou no banheiro, tirou a roupa e escutou um estrondo vindo da parede. Era gol do Flamengo, o vizinho comemora mais que todos os moradores reunidos.

Pacheco resolve parar de trabalhar e continuar amanhã. Finalmente Tião consegue tomar banho. Agora é só relaxar. Na madrugada, começa: Bum, bum, bum...bum, é o som alto na casa ao lado, em comemoração à vitória do Flamengo. Tião põe o travesseiro na cabeça, de forma a cobrir as orelhas. Mas o som é alto. Mesmo no escuro ele vê o buraco feito no chão pelo Pacheco e resolve entrar. Não consegue, devido à encanação que ainda não foi retirada.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Coitado do Tião, até parece o Pedro Pedreiro.
    "Está esperando a sorte, esperando a morte, esperando, esperando, esperando..."

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  3. Quero textos novos! Gostei dos outros e deste tmb, mas cadê mais?

    Abraço

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