quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Líder de audiência

O programa de TV chega ao fim. O apresentador José Oliveira bate a palma da mão na outra. Bate forte, com a empolgação de ter realizado um bom trabalho.
Na mão direita, José Oliveira recebe uma toalha, que a colocou no ombro esquerdo. Na outra mão recebeu um copo d’água, que bebeu pausadamente como quem bebe champanhe em uma festa.
Ele caminha de encontro ao diretor. E aí, Maurício, ganhamos de quanto, pergunta José, o suficiente pra continuarmos em primeiro lugar, depois que essa cambada começou a morrer, agente tá ganhando disparado, Somos líderes de audiência nesse horário, e vamos continuar, responde o diretor. E o que não vai faltar é vagabundo pra virar notícia. Com essa onda de assassinatos, a gente tá feito!

José de Oliveira se despede e vai em direção a seu carro. Com estatura mediana e acima do peso, o apresentador de programa policial leva a seu rosto branco e bem barbeado seu óculos escuros e de poucos graus. Coloca dois anéis grandes de ouro na mão direita e um na esquerda. Da testa para a nuca, ele passa a mão nos cabelos lisos e começando a ficarem grisalhos. Entra no veículo, coloca o terno no banco de trás, liga o carro e sai do estúdio, ganhando a rua.
No caminho, o telefone celular toca, com o som da vinheta do programa. Com a mão esquerda, ele continua a dirigir, e com a direita pega o aparelho. Olha quem o chama, dá uma leve risada e atende. Fala Carlão, beleza, pergunta José. Beleza meu chefe, responde no outro lado da linha. Como foi a produção? Boa, diz Carlão. É isso aí, amanhã vai entrar na pauta. Tenho que te dar a grana, né, então vamos tomar um chopp naquele bar que vende um sanduiche de lombinho com abacaxi muito bom. Fechou, fala Carlão, Chago lá em 15 minutos.
Carlão chega primeiro no bar combinado, de sapatos pretos, jeans escuro e camisa social branca de manga curta, olha para o recinto, com apenas uma mesa desocupada, eram seis e meia da noite, pede um chopp.
De dentro do bar, Carlão vê um carro parar, é José, que sai do carro e o tranca com o controle. Caminha em direção a Carlão, põem as mãos na mesa, olha para a cara de Carlão e sorri. Ele também pede um chopp.
Conversam como amigos que se encontram depois de um dia de trabalho. José coloca a mão no bolso e tira um cheque, dá para Carlão, que pega e olha o valor. Como combinado, fala José. É isso, completa Carlão. Como foi? Fácil: quando vi um criolo descalço sair da favela, segui de carro, até a estrada, quando vi pouco movimento parei do lado do feioso, chamei a atenção dele, quando vi a cara do sujeito acertei bem no meio da fuça, um tiro só, caindo no mato.
O apresentador se levanta, deixa um dinheiro em cima da mesa para pagar a conta, estou indo embora, diz. Carlão se levanta, tudo bem, quando você quiser que mais alguém vire pauta para o programa é só chamar. Os dois apertam a mão.

2 comentários:

  1. Atualiza esta bodega! Os textos estão bons!

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  2. Matar está realmente fácil!, infelismente, muitos em nossa sociedade acham normal essa barbárie.

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